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Olá, sou rabequeiro-artesão-fazedor de rabecas, compositor, poeta popular e contador de estórias...Vim de São Miguel Pta, zona leste de São Paulo, onde me criei, lugar que me cuidou e me inspirou pra correr trecho por aí...

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Pé véio estradeiro...

No final de 2004, me vi novamente com aquela coceira, aquela agonia dos que sofrem com a doença da estrada, mal esse que transforma corpo e mente e que sustenta os sonhos dos "caminheiros ", cortando esse mundão a fora com o facão cego da chinela. Esses sintomas me levaram de carona por uma viagem de São Paulo á Feira de Santana (princesinha do sertão), peguei um ônibus para Irecê (terra do feijão) onde fiquei alguns dias para depois seguir para Senhor do Bonfim (que pra mim era um bom começo) e por fim Pernambuco.
Minha natureza é nômade, e a certeza da infinita transitoriedade do mundo físico que conhecemos, e do mundo metafísico que buscamos, é combustível pro veiculo corpo e matéria-prima para mente, a nave da transcendência. Dentro do nosso ínfimo conhecimento consciente, só viajamos, porque somos a representação física do mundo real no nosso inconsciente, ao qual só temos acesso quando abrimos as portas.
Por isso abrimos a porta, dizemos tchau, e pegamos a estrada...


“Eu sorri e quis chorar,
quando conheci o sertão”
( Eder Fersant )



Certo dia eu sonhei
com um bonito lugar
onde iria confirmar
tudo aquilo que eu já sei
por lá eu nunca passei
mas não nego a raça não
descendente desse chão
sou feito do pó de lá
eu sorri e quis chorar
pois sonhava com o sertão

Fiz do meu sonho o inverso
do que faz o retirante
pro meu nordeste distante
viajei vendendo verso
da minha terra me despeço
com meu céu dizendo não
mandando cada trovão,
pedindo pra que eu não vá
“Eu sorri e quis chorar
quando conheci o sertão”

E ele me reconheceu
longe da minha meta ainda
flor morena, a mais linda
sorrindo me recebeu
ainda vejo o olhar seu
me serviu seu coração
entre dever e paixão
num prato de mungunzá
“Eu sorri e quis chorar
quando conheci o sertão”

Vi um santo verdadeiro
ele nem me conhecia
me ajudou como podia
um anjo caminhoneiro
e eu poeta caroneiro
montado num caminhão
vi pousar um gavião
num orelhão da Telemar
“Eu sorri e quis chorar
quando conheci o sertão”

Paisagem cor de areia
valente mandacaru
por cima no céu azul
suada, a mente vagueia
por beleza sem pareia
eu me ajoelhei no chão
poeira rósea na mão
pra na alma esfregar
“Eu sorri e quis chorar
quando conheci o sertão”

O Velho Chico pingava
na casa de um cantador
um irmão e um professor
e a brancura que ele amava
também me alimentava
com cuscuz, carinho e pão
um conde,um rei e um barão
protegiam aquele lar
“Eu sorri e quis chorar
quando conheci o sertão”

No deserto multicor
é o pó quem me sacode
vi a onça come-bode
falar com voz de tambor
e o som chega rachou
a coité da ilusão
bebendo quebra-facão
joguei pra noite chegar
“Eu sorri e quis chorar
quando conheci o sertão”

Também vi uma serpente
debaixo da barriguda
era preta, era miúda,
era mortal ser vivente
só um aboio diferente
na garganta do clarão
trovejou no céu então
mãos calejadas pro ar
“Eu sorri e quis chorar
quando conheci o sertão”

Ainda imperando o dia
estancada a tempestade
o vaqueiro da verdade
caça a rês da melodia
pois a noite chegaria
e com ela a solidão
até que agradece o chão
na colheita do luar
“Eu sorri e quis chorar
quando conheci o sertão”

Também deixei essa terra
pra continuar a jornada
no sorriso da chapada
cruzei morro,cruzei serra
mas beleza não se encerra
lá na terra do feijão
reguei grande plantação
com a chuva do meu olhar
quis sorrir, só fiz chorar
até logo meu sertão.

4 comentários:

  1. Fala seu fela da pota!!! abriu um blog e nem me comunica?!!!!! desaforo!!!!
    té mais!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. É de fazer sonhar, imaginar e desejar
    É de fazer sorrir e suspirar
    De tão lindo faz é apertar o coração e ver que não sou nada nesse mundão
    Mas faz ver, também, que sou o que desejo ser
    E que a vida acontece a cada hora, minuto, segundo
    Ainda vejo um azul de voar pela janela com um sol vermelho e uma imensidão sem fim de estrelas, céu limpo
    E tenho dito!

    Um chero, parabéns, pois é realmente encantador

    Renata Teixeira

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