Como é que tem passado?
(Eder Fersant)
Carece muito cuidado
quando a paixão não foi pouca
nem mesmo um quilo de roupa
consegue esconder o pecado
contido e acorrentado
na garganta mentirosa
e eu gaguejando em prosa
vou mentindo, me conforto
dizendo que não me importo
com quem deita ou com quem goza
Precisa muita cautela
quando andando na rua
vejo ela quase nua
sendo grossa a roupa dela
quando a imagem é tão bela
quanto a recordação
nem se lembra o coração
mas o corpo não se esquece
quando o cheiro reconhece
joga no mato a razão
Quando a dor da boa lembrança
se confronta com a presença
é assinada a sentença
feito uma onça que avança
e dilacera a distancia
naquele abraço roçado
no gemido sussurrado
até que a gente se larga
na pergunta descarada
“como é que tem passado?”